Flávio Araújo foi a voz do milésimo gol de Pelé – 17/09/2024 – Cotidiano


“O mundo está aplaudindo.” Esta frase, dita após o milésimo gol de Pelé, marcou a história do futebol brasileiro e a do seu autor, Flávio Araújo. Naquele 19 de novembro de 1969, ele narrava pela rádio Bandeirantes a partida entre o Santos do Rei e o Vasco da Gama, no Maracanã.

Era mais um capítulo glorioso do esporte nacional imortalizado por aquela voz, marcada pela pronúncia espanholizada do som de ‘r’, como fazem os gaúchos.

Flávio, porém, era bem paulista. Nasceu em Presidente Prudente, a 558 km de São Paulo, em 29 de julho de 1934. Começou a narrar por lá mesmo, em 1950. Sete anos depois, passou a oferecer seus serviços à Bandeirantes.

Contou histórias como o primeiro título de um clube do país na Libertadores, o Santos, em 1962, e lutas históricas de Éder Jofre, tricampeão mundial de boxe. A mais lembrada ocorreu em 1965, em Nagoya, no Japão, quando o Galo de Ouro enfrentou Fighting Harada. Flávio segurou o público sozinho, sem comentarista.

Também foi ele o responsável por transmitir o primeiro título de um brasileiro na Fórmula 1, de Emerson Fittipaldi, em 1972, e a primeira vitória de Nelson Piquet, em 1980. Ainda narrou cinco Copas do Mundo, de 1966 a 1982, abrilhantando o título dos comandados de Mário Jorge Lobo Zagallo em 1970, no México, com seu bordão “colocou a deusa branca para fazer chuá”, logo após um lance de gol.

Flávio Araújo narrou até 1986. Depois, tornou-se comentarista, função exercida até 2002. Ainda comandou a coluna Em cima da bola, no extinto jornal Agora São Paulo, do Grupo Folha.

Nada disso, entretanto, marcou tanto a vida do homem quanto seu último trabalho: cuidar de Yvette, sua mulher, acometida por Alzheimer. Por ela, se mudou em 2016 para São José do Rio Preto, no interior paulista, buscando maior tranquilidade. Sua companheira morreu naquele mesmo ano.

Já para Flávio o apito final veio aos 90 anos, sem acréscimos. Morreu na madrugada desta terça-feira (17), de causas naturais, deixando seu legado aos filhos Vinícius, Flávio, Helder, Adriano e Sílvio, além de netos e bisnetos.

“Lembro de quando descobri que meu pai era o Flávio Araújo. Foi durante a Copa de 1966, na Inglaterra. Ganhei um radinho de pilha e ouvi a voz dele. Foi motivo de muita felicidade”, conta Vinícius Araújo, o primogênito.

“Vai-se o Flávio Araújo e deixa seu exemplo, deixa a sua carreira, e deixa o tempo em que narrar futebol era coisa mais séria, mais bonita, mais precisa.”

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