Redução dos juros nos EUA pode impactar eleição? – 18/09/2024 – Mercado


Após mais de um ano de espera, esperança e garantias aos americanos de que a economia poderia alcançar o “pouso suave” (quando a inflação se aproxima da meta sem impactar o emprego), o presidente Joe Biden e a vice-presidente Kamala Harris parecem estar próximos de ver isso acontecer.

O aumento de preços desacelerou. O crescimento econômico permanece forte, embora o saldo de admissão no mercado de trabalho esteja menor. Os custos dos aluguéis estão caindo e o Fed (Federal Reserve, o BC dos EUA) anunciou nesta quarta-feira (18) o primeiro corte nos juros desde a pandemia de Covid.

No entanto, não está claro se esses resultados alterarão de forma significativa as percepções predominantemente negativas dos eleitores sobre a economia antes da eleição presidencial.

Nas últimas semanas, o governo divulgou uma série de bons dados sobre inflação e taxas de juros. O preço da gasolina caiu para menos de US$ 3 por galão em grande parte do Sul e Meio-Oeste do país e está se aproximando do menor valor em três anos no nível nacional.

Os preços dos alimentos, que estavam disparando, desaceleraram. As taxas de aluguel caíram mais de um ponto percentual nos últimos meses. O Census Bureau relatou na semana passada que a renda típica das famílias aumentou mais rápido que os preços no ano passado pela primeira vez desde a pandemia. A taxa geral de inflação voltou a níveis historicamente normais, o que ajudou o Fed a reduzir os juros.

A administração Biden, que foi criticada por republicanos e muitos economistas por alimentar a inflação com sua política econômica, começou a celebrar as melhoras. Os funcionários estão reivindicando a validação de seus esforços de trilhões de dólares para impulsionar famílias e empresas em sua recuperação da recessão causada pela pandemia.

O Conselho de Assessores Econômicos de Biden publicou um post nessa terça-feira (17) destacando o crescimento econômico e de empregos sob a atual gestão que superou as estimativas do mercado. Lael Brainard, que lidera o Conselho Econômico Nacional de Biden, disse ao Conselho de Relações Exteriores em Nova York na segunda-feira (16) que a economia dos EUA atingiu um “ponto de virada”.

“Há alguns anos, muitos estavam convencidos de que a combinação de uma grande queda na inflação com uma expansão sustentada que estamos vendo hoje não poderia acontecer”, afirmou Lael.

Os assessores do presidente apontam para este ponto de inflexão há mais de um ano. Eles confiam que os cortes do Fed ajudarão a reduzir os valores de aluguel e passarão aos eleitores uma mensagem poderosa de que o pior da luta contra a inflação havia passado.

Entretanto, as autoridades reconhecem que esses ganhos vieram meses depois do que esperavam e possivelmente muito perto da eleição para acabar com as preocupações dos eleitores sobre a inflação na administração Biden-Kamala, um dos pontos mais destacados nas críticas do opositor Donald Trump aos adversários.

Eles também reconhecem que o aumento dos preços na gestão Biden, inclusive em itens essenciais como alimentos e habitação, continua a sobrecarregar as famílias. O Conselho de Assessores Econômicos observou na semana passada que a habitação continua a desempenhar um papel desproporcional na inflação geral —um desafio que provavelmente não será resolvido rapidamente e que deve exigir novas medidas políticas para incentivar a construção de casas.

Como resultado, há pouco consenso sobre o quanto as recentes notícias econômicas podem animar o eleitorado para definir o próximo presidente. Os economistas se dividem também sobre o impacto do corte de taxas, que foi anunciado nesta quarta-feira.

Josh Bivens, economista-chefe do Instituto de Política Econômica em Washington, disse que ele acredita “que uma fatia muito, muito pequena de pessoas reconheceriam esse tipo de importância simbólica do corte” para a economia e a administração dela.

É possível, acrescentou, que o Fed tenha esperado tanto para cortar os juros que não permitirá que a campanha de Kamala tenha tempo suficiente para aproveitar a situação.

R. Glenn Hubbard, economista da Universidade de Columbia que liderou o Conselho de Assessores Econômicos sob o presidente George W. Bush e aconselhou candidatos presidenciais republicanos, avaliou que o corte de 0,50 ponto percentual pode ser motivo de preocupação para os consumidores.

Em uma explicação que pode ser usada por Trump e outros republicanos, Hubbard disse que a decisão de cortar as taxas em 0,50 ponto percentual “pode ser vista como a representação de uma economia significativamente enfraquecida com potenciais consequências políticas”.

Outros dizem que a redução pode ser benéfica para a vida da população dos EUA e que pode desencadear uma série de reportagens positivas na imprensa sobre o fim da era da inflação alta, o que pode beneficiar Kamala Harris.

“Para os milhões de americanos que não podem pagar à vista por uma casa ou um carro, ou que não podem sempre pagar a fatura do cartão de crédito em uma parcela, o corte proporcionará um alívio real”, analisou Lindsay Owens, diretora executiva do Groundwork Collaborative em Washington. “Eu espero que isso se traduza em um aumento no sentimento do consumidor, o que beneficiará Harris”

As expectativas dos consumidores para a economia melhoraram em agosto, de acordo com a Universidade de Michigan, e aumentaram mais de 10% em relação ao ano passado. Mas o sentimento geral permanece baixo em termos históricos e está abaixo do início do mandato de Biden.

As pesquisas geralmente mostram Trump liderando em questões econômicas, embora a diferença tenha diminuído desde que Kamala substituiu Biden como candidata democrata. Nem a campanha da atual vice-presidente nem a de Trump comentaram esta semana sobre um possível movimento do Fed e suas implicações para a economia. Mas uma porta-voz do Comitê Nacional Republicano, Anna Kelly, criticou Kamala pelo histórico de sua administração sobre os custos de empréstimos.

“Kamalanomics levou ao aumento mais rápido das taxas de aluguel desde 1981, e apenas o presidente Trump pode restaurar o crescimento econômico após quatro anos de fracasso”, afirmou.

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