Fogo no Brasil é alimentado por parte do agro que se vende como pop


A bituca de cigarro acesa e os raios que partem do céu não são os grandes culpados pela fumaça que cobriu Manaus, São Paulo e Brasília. Para além dos incêndios que são disparados pela parcela criminosa de produtores, o tempo mais seco (que nos transformou em uma grande fogueira) é resultado de eventos climáticos extremos. Agravados pelo avanço predatório do país sobre seus biomas.

O fogo que queima a Amazônia, o Pantanal, o Cerrado e a Mata Atlântica é alimentado também pela produção de madeira (exportada ou transformada em matéria-prima para a construção civil nas grandes cidades brasileiras), de carne bovina (que abastece o Brasil e o mundo e avança sobre áreas de floresta), pela produção de energia (a eletricidade das grandes usinas instaladas à base de destruição ambiental na Amazônia flui para o resto do país) e da gasolina (que torna o ar irrespirável e lança toneladas de carbono na atmosfera).

Passar pano para a parte anacrônica do agro

Há décadas, sociedade civil e cientistas alertam sobre a necessidade de ações mitigatórias, o que significa, reduzir emissão de gases causadores de efeito estufa. O Brasil não polui no mesmo patamar da China e dos Estados Unidos, mas contribui para o colapso do clima com queimadas e desmatamento e emissão de gases de veículos. Nos anos de gestão (sic) Jair Bolsonaro, houve um salto na destruição da Amazônia, revertendo a curva de redução. E mais carbono foi lançado na atmosfera. Agora, a natureza dá o troco.

O Brasil precisa mudar seu modelo de desenvolvimento se quiser ajudar o mundo a abaixar a temperatura. Isso significa lembrar que, apesar de pop, parte do agro desmata e queima; que não se muda nada se o Congresso Nacional continuar agindo como guardião de agrotrogloditas; que os governos federal, estaduais e municipais vão precisar gastar em pessoal e em estrutura para colocar as políticas em prática; e que a sociedade vai ter que repensar o nosso modelo de desenvolvimento e o nosso consumo.

É possível crescer economicamente, mas com responsabilidade. Respeitando o zoneamento econômico da região, que diz o que pode e o que não pode se produzido em uma área; realizando uma regularização fundiária geral e confiscando terras roubadas do Estado; executando uma reforma agrária com a garantia de que os recursos emprestados pelos governos às pequenas propriedades – responsáveis por garantir o alimento na mesa dos brasileiros – sejam, pelo menos, da mesma monta que os das grandes; preservando os direitos das populações tradicionais, cujas áreas possuem as mais altas taxas de conservação do país; mantendo o exército longe da política fundiária e indígena, mas protegendo fronteiras. Ah, e sem usar trabalho escravo, que é empregado no desmatamento a torto e direito.



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