A Cúpula do Futuro ou a culpa no futuro – 17/09/2024 – Ilona Szabó de Carvalho


Nos próximos dias 22 e 23, acontecerá em Nova York a Cúpula do Futuro, que reunirá mais de 120 chefes de Estado e de governo na sede das Nações Unidas, em que, espera-se, será adotado por consenso o Pacto para o Futuro. O documento apresenta propostas de ação para responder aos grandes desafios mundiais das próximas gerações.

Parece irônico chamar de futuros os desafios que já estão postos neste 2024 com jeito pré-apocalíptico. Mas por isso mesmo é importante agir para mudar a trajetória que nos fez chegar a essa cúpula com uma agenda do presente.

À frente do G20, Lula tem sido protagonista ao pautar desafios globais e vocalizar a urgência de garantir às nações de renda baixa e média condições para a transição a sociedades mais igualitárias e sustentáveis. Cabe perguntar ao presidente: qual liderança o país quer exercer nesta Cúpula do Futuro?

Não que o atual estado de coisas seja prerrogativa brasileira, mas o nosso futuro nos trouxe más notícias em temas nos quais o mundo espera –e precisa– que sejamos exemplo. Dentro da gravíssima e exponencial crise climática que o planeta enfrenta, o Brasil tem vivido, em curto período, as pragas da chuva e do fogo.

Em ambas podemos enfileirar crimes de toda a ordem que as causaram e potencializaram de forma inédita. A Amazônia e o cerrado encurtaram o caminho ao ponto de não retorno.

No mesmo momento, estamos sob os holofotes internacionais do debate sobre regulação de plataformas digitais, com as questões trazidas pela decisão do STF de suspender o X no país. Para além do caso em si, o Brasil se tornou um laboratório sobre as ações on e offline do extremismo de direita contra a democracia e sobre os limites da liberdade de expressão, do cumprimento das leis e da segurança da população.

No contexto geopolítico, o mundo revive a ameaça nuclear com as guerras na Europa e no Oriente Médio. Por aqui, na América Latina, os esforços de mediação regional, que vêm falhando nos casos da Venezuela e Nicarágua, tornam ainda mais necessária e complexa a defesa brasileira da reforma do multilateralismo, que é, de fato, a principal agenda da ONU para a Cúpula do Futuro.

Para lembrar, a conferência nasceu a partir de discussões em 2020, nos 75 anos das Nações Unidas, sobre o futuro da cooperação internacional face a desafios como as mudanças climáticas, as desigualdades, a pobreza e os conflitos entre os países. No ano seguinte, o secretário-geral, António Guterres, propôs a Nossa Agenda Comum, encaminhando essas questões para gerarem um pacto global em uma Cúpula do Futuro.

Como integrante do Conselho Consultivo de Alto Nível sobre Multilateralismo Eficaz do Secretário-Geral da ONU, participei da formulação de um relatório com insumos para esta cúpula. Temos de agir para ontem, para já. É uma chance que não temos o direito de desperdiçar se não quisermos transformá-la em uma culpa no futuro.

Não há outro caminho senão pactuar e agir pelas pessoas e pelo planeta. Nosso papel, como cidadãos, é lutar por nossa humanidade, cobrando governos, abrindo diálogos, buscando soluções no que está ao nosso alcance.

E formando nossas crianças, e as que virão, para tomarmos juntos as rédeas do presente.


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