A normalização de Bolsonaros e Marçais flerta com fim da própria democracia


A delinquência analítica que o acusa de aplicar censura prévia quando derruba páginas de criminosos contumazes, por exemplo, finge ignorar o funcionamento da indústria de “fake news” e de ataque às instituições. Não se trata de uma produção artesanal. Há verdadeiras organizações criminosas articuladas com esse fim.

Retirar uma página no ar por reiterada veiculação de “fake news” corresponde a fechar um desmanche clandestino de carros ou uma central para dar golpes bancários via Internet. O que os críticos de Moraes gostariam que se fizesse em casos assim? Punir-se-iam os responsáveis pelo desmanche ou pela central a cada caso denunciado, mas sem interferir no seu regular funcionamento? E, no caso, funcionariam para quê? Ora, para praticar novos crimes.

O show de horrores a que se assiste na disputa eleitoral de São Paulo — e parece que poucos se dão conta disto — também é fruto do laxismo na aplicação da lei. Estamos constatando, à luz do dia e em cena aberta, o que pode acontecer numa disputa sem regras — ou pior: as regras objetivamente existem, mas há pouca disposição subjetiva — dos sujeitos — para aplicá-las.

Sem a força coativa da lei, as coisas se complicam. E isso só demonstra a importância da atuação de Moraes — e, mais amplamente, do TSE — em favor da lisura no pleito de 2022. É compreensível que os bolsonaristas e a extrema-direita cultivem um ódio tão dedicado e fanático ao ministro. Em larga medida, ele responde pela lisura da eleição porque não permitiu — ou a mitigou no limite do possível — que a pistolagem tomasse o lugar da vontade do eleitor. Não espero que mereça o apreço de bandidos. Infelizmente, há os que, não sendo bandidos, deixaram-se capturar pela “banditização” do pensamento.

Por que Pablo Marçal (PRTB) faz o que faz na campanha eleitoral e nos debates em São Paulo? Porque age na certeza de que nada vai lhe acontecer, de que a legislação é frouxa o suficiente para permitir uma interpretação relaxada e de que eventuais sanções serão pouco gravosas. E pronto! A patuscada está contratada.

Os tempos, convenham, já não ajudam. Os “clowns” sempre apareceram nas disputas. Mas, como é evidente, na era pré-redes, não tinham como ir muito longe — não, ao menos, na disputa por um cargo no Executivo. Hoje em dia, um malandro pode saltar das redes para a cabeça nas pesquisas de intenção de votos num piscar de olhos. E, não raro, o que ele tem a oferecer? Resposta a problemas? Propostas inovadoras? Um entendimento original do mundo? Nada! Bastam discurso de ódio e ataque às instituições, apresentando-se como uma novidade que vai mudar “tudo isso que está aí”.



Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *