Avanços não garantiram equilíbrio de gênero no trabalho – 19/09/2024 – Equilíbrio


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O Nobel de Economia de 2023 laureou, pela primeira vez, uma mulher na categoria. Claudia Goldin, 78, é professora de Economia na Universidade de Harvard e pesquisa o papel das mulheres no mercado de trabalho.

Uma das grandes descobertas de Goldin, demonstrada num gráfico assustador, é que o salário e a carreira das mulheres fica estagnado a partir do momento que elas têm o primeiro filho. Os homens, por outro lado, continuam a crescer.

A história por trás das linhas do gráfico todo mundo conhece. Crianças precisam ir à escola, ao judô, ao balé, ao dentista, precisam ser levadas, buscadas, alimentadas e cuidadas. O dia tem as mesmas 24 horas para todos, e as mulheres acabam sacrificando sua disponibilidade profissional para ter flexibilidade de atender às necessidades de seus filhos. Nas palavras de Goldin, em uma entrevista feita à repórter especial Patricia Campos Mello, “o homem mantém seu ‘emprego ganancioso’ —trabalha mais horas, está sempre disponível, ascende na carreira e ganha muito mais”.

Goldin explica que o trabalho ganancioso é “aquele em que, quanto mais horas você trabalha, quanto mais disponível você está, maior é o pagamento implícito por hora”.

Algumas mudanças no mercado de trabalho dão sinais de avanços. Goldin é otimista. Ela menciona pesquisas que indicam o aumento do trabalho remoto depois da pandemia, que saltou de 5% para cerca de 25%. Ela diz que “faz diferença para as mulheres, porque permite conciliar seu dia com o tempo em família, é como estar de prontidão em casa, mas estar trabalhando efetivamente”.

O que a economista sugere para que um casal trabalhe as disparidades salariais de gênero dentro da relação é que ambos procurem empregos equivalentes e igualmente flexíveis, que permitam tempo em casa e uma divisão mais igualitária das tarefas domésticas. O rendimento total do casal pode ser afetado, diz Goldin, mas é um preço a se pagar. “A grande questão, no final, é: ok, se tudo avançou tanto, por que ainda não está equilibrado?”, indaga ela.

O desequilíbrio das tarefas de cuidado, que costumam recair sobre as mulheres, pode ser chamado de jornada dupla ou até tripla de trabalho. Esse trabalho invisível foi até tema de redação do Enem, no ano passado, e vale, pelo menos, 8,5% do PIB, como mostra essa reportagem da jornalista Daniele Madureira. A filósofa italiana Silvia Federicci é uma das grandes estudiosas do tema e, em uma de suas visitas ao Brasil, falou que “o que eles chamam de amor, nós chamamos de trabalho não pago”.

No Brasil, o cenário não é animador. De um ano para cá, a disparidade salarial entre homens e mulheres se aprofundou. Segundo um novo levantamento feito pelo governo federal, mulheres receberam, em média, 20,7% a menos do que os homens em 2023. No primeiro levantamento, divulgado em março, a remuneração das mulheres era 19,4% menor do que a dos homens, com base em números de 2022.

A disparidade entre mulheres negras e homens brancos é pior que a média: elas recebem cerca da metade do que eles ganham.

Esses dados são fruto do relatório de transparência salarial, obrigatório para empresas com cem ou mais empregados a partir da lei de igualdade salarial, aprovada em 2023. O segundo relatório contou com informações de 50.692 empresas.

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Um novo estudo traz uma descoberta importante para a neurologia —e para as mulheres. Segundo a neurocientista cognitiva Elizabeth Chrastil, da Universidade da Califórnia, o cérebro da mulher se reorganiza durante a gravidez e foi documentada uma redução de 4% na massa cinzenta.

Chrastil é coautora do estudo e foi também objeto da pesquisa. Ela observou o próprio cérebro antes, durante e depois da gestação do seu filho. Cientistas dizem que, desde a conclusão da pesquisa, notaram o mesmo padrão em outras gestantes em um estudo em andamento chamado Maternal Brain Project (Projeto Cérebro Maternal).

Ainda na temática cerebral, vai a recomendação da pesquisa de outra neurologista cujo trabalho tem impacto. Anna Lembke veio ao Brasil para o ciclo de palestras Fronteiras do Pensamento e falou sobre vício e a relação da sociedade com a dopamina. Ela diz que até atividades saudáveis, como leitura, podem se tornar vícios. De novo, ela mesma foi cobaia.

Lembke conta que ficou viciada em livros de romance depois de ler “Crepúsculo”. Viciada não é eufemismo. Ela notou sintomas, como deixar de sentir prazer em outras atividades e varar noites devorando centenas de páginas sobre vampiros, lobisomens e relações BDSM.

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A Folha lançou um blog dedicado aos cuidados com a pele e os cabelos, o Primeira Pele. O Brasil é o segundo maior mercado de perfumaria do mundo, com vendas que movimentaram US$ 6,8 bilhões (R$ 32,6 bilhões) em 2022, segundo a consultoria Euromonitor. Em maquiagem, o país está entre os dez maiores consumidores globais, com faturamento de US$ 2 bilhões (R$ 9,5 bilhões) no ano.

O blog é assinado por jornalistas da iniciativa Todas e do núcleo de Saúde e Equilíbrio do jornal. Na estreia, a repórter Vitória Macedo responde à pergunta por que já consideramos madura a pele de alguém com 25 anos?

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