Diagnóstico tardio de autismo, como o da cantora Sia, costuma ocorrer em casos mais leves – Notícias

Diagnóstico tardio de autismo, como o da cantora Sia, costuma ocorrer em casos mais leves – Notícias


A cantora autraliana Sia, de 47 anos, relatou no fim de maio que foi diagnosticada recentemente com autismo.


Os TEAs (transtornos do espectro autista) são, segundo o Manual MSD de Diagnóstico e Tratamento, distúrbios do neurodesenvolvimento, os quais ocasionam dificuldades de interação e comunicação social e desenvolvimento intelectual irregular. Comumente, eles são diagnosticados durante a infância.



O neurologista Edson Issamu, da Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo, explica que o diagnóstico do transtorno costuma ocorrer de maneira clínica, com entrevista entre paciente, médico e psicólogo.


Ainda, é possível que sejam solicitados exames, como ressonâncias magnéticas, tomografias computadorizadas, eletroencefalograma e um teste neuropsicológico, junto com um teste de Roscharch (borrão de tinta).


Quando o diagnóstico é para uma criança, ainda é solicitada a presença dos pais para a conversa, de modo a entender o desenvolvimento e o histórico de doenças.


“A somatória de todos esses fatores é o que vai fazer o diagnóstico do TEA.”


No entanto, o psiquiatra Wimer Bottura, membro da ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria), esclarece que não existem deformidades cerebrais ou aspectos bioquímicos que justifiquem o autismo, o que pode gerar certa controvérsia no diagnóstico de TEA. 


Graus do autismo


O neurologista afirma que o TEA, por estar dentro de um espectro, abrange um leque de manifestações inseridas nesse diagnóstico. O DSM-5 (Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais 5ª edição) classifica o autismo em três graus.


• Nível 1 — “Exigindo apoio” na comunicação social: na ausência de apoio, déficits na comunicação social causam prejuízos notáveis. Dificuldade para iniciar interações sociais e exemplos claros de respostas atípicas ou sem sucesso a aberturas sociais dos outros. Pode parecer apresentar interesse reduzido por interações sociais. Por exemplo, uma pessoa que consegue falar frases completas e envolver-se na comunicação, embora apresente falhas na conversação com os outros e cujas tentativas de fazer amizades são estranhas e comumente malsucedidas.


Comportamentos restritos e repetitivos: inflexibilidade de comportamento causa interferência significativa no funcionamento em um ou mais contextos. Dificuldade em trocar de atividade. Problemas para organização e planejamento são obstáculos à independência.


• Nível 2 — “Exigindo apoio substancial” na comunicação social: déficits graves nas habilidades de comunicação social verbal e não verbal; prejuízos sociais aparentes mesmo na presença de apoio; limitação em dar início a interações sociais e resposta reduzida ou anormal a aberturas sociais que partem de outros. Por exemplo, uma pessoa que fala frases simples, cuja interação se limita a interesses especiais reduzidos e que apresenta comunicação não verbal acentuadamente estranha.


Comportamentos restritos e repetitivos: inflexibilidade do comportamento, dificuldade de lidar com a mudança ou outros comportamentos restritos/repetitivos aparecem com frequência

suficiente para serem óbvios ao observador casual e interferem no funcionamento em uma variedade de contextos. Sofrimento e/ou dificuldade de mudar o foco ou as ações.


• Nível 3 — “Exigindo apoio muito substancial”  na comunicação social: déficits graves nas habilidades de comunicação social verbal e não verbal causam prejuízos graves de  funcionamento, grande limitação em dar início a interações sociais e resposta mínima a aberturas sociais que partem de outros. Por exemplo, uma pessoa com fala inteligível de poucas palavras que raramente inicia as interações e, quando o faz, tem abordagens incomuns apenas para satisfazer as necessidades e reage somente a abordagens sociais muito diretas.


Comportamentos restritos e repetitivos: inflexibilidade de comportamento, extrema dificuldade em lidar com a mudança ou outros comportamentos restritos/repetitivos interferem acentuadamente no funcionamento em todas as esferas. Grande sofrimento/dificuldade para mudar o foco ou as ações.


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Diagnóstico tardio


Bottura acrescenta que o diagnóstico tardio ocorre em adultos que, geralmente, têm o autismo em grau um, considerado o mais leve.


Em tais casos, é mais comum que esses pacientes consigam se relacionar e levar uma vida profissional, com manifestações menos graves quando comparadas aos graus dois e três — diagnósticos que costumam ocorrer na infância. 


Issamu complementa, ressaltando que a identificação tardia do transtorno costuma ocorrer quando as questões sociais, por exemplo, passam a ser incômodas, quando começam a  impactor a vida, os relacionamentos interpessoais ou o trabalho. 


“O autismo se caracteriza pela dificuldade de contato, no sentido de perceber o outro, vibrar na mesma frequência que outras pessoas. No adulto, essa dificuldade existe com menos intensidade e gravidade quando comparado à infância”, afirma o psiquiatra. 


Assim, o neurologista afirma que, com essa dificuldade, é comum o ciclo social desse paciente ser reduzido e, por muitas vezes, dificultoso ou conflituoso.


Os especialistas dizem que não existe um tratamento para o TEA, mas abordagens terapêuticas multidisciplinares podem auxiliar no controle de sintomas.


São necessários apoio psicológico — podendo até necessitar de neuropsicólogos —, terapias ocupacionais para ajudar no desenvolvimento de algumas habilidades, e consultas com psiquiatras, em casos em que o paciente tenha outros transtornos associados.



“A arteterapia, seja pintura, escultura, seja música, é uma alternativa. Além de outras formas de expressão que possam favorecer o contato da pessoa com seus próprios sentimentos, além do contato com outras pessoas, usando a arte como intermediário para tal.


Pelo fato de a principal dificuldade do autista ser a comunicação, quando descobrimos uma via de comunicação não convencional, aumentamos as chances de esse paciente sofrer e causar menos sofrimento”, conclui Bottura. 


Autismo pode estar relacionado a atraso em fala de criança:


douglasc

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